quinta-feira, 16 de agosto de 2018

SENTIMENTO REVOLUCIONÁRIO

O turbulento período de Abril de 74, cunhou o nosso país, apesar das peculiares originalidades, com uma cultura política tipicamente continental (com marcas distintamente francesas).
Nesta visão, a revolução é sinónimo de progresso, desenvolvimento e de inovação, a mudança é idealizada, definida e realizada centralmente e o Estado assume-se como o orientador, planeador e modelador. O ímpeto revolucionário é conotado como algo fresco e desejável, e ecoado como a verdadeira solução. Esta pulsão permite, provavelmente, compreender a inquietante e instável acção política portuguesa, que foi obreira de excessivas mutações nos elencos governativos, desde o momento em que a democracia foi içada.   

Os políticos, embebidos nesta concepção, justificam, até à exaustão as suas inaptidões ou inabilidades com supostos erros dos seus antecessores, procurando assim enaltecer e legitimar a contínua ruptura. Contudo, o hiato entre o que realmente se adquire com revolução e a esperança revolucionária é, em poucos dias e após a queda do "Antigo Regime", precipitadamente realçado e pragmaticamente desmascarado. Sente-se então que os problemas além de aparentarem serem sempre os mesmos, são aterradoramente eternos. Sobressai, uma vez mais, a incapacidade de reflectir e agir sobre o que é essencial, para de novo dar o placo à contagiante apatia social, que apenas jubilou, embora por breves instantes, quando ocorreu a precedente mutação.

Requer-se e exige-se uma ponderada e inclusiva reflexão. O país precisa de definir, com realismo, o que quer e quais as suas metas, para que possa delinear estrategicamente os meios para lá chegar. Além de evidente, é factual que a posição de recomeçar sempre de novo não só não é sustentável como esvazia demasiados recursos, aprofundando invariavelmente o fosso face aos fins ambicionados. As rotineiras variações dos governos somente estimulam a reestruturação dos jogos de interesse e o surgimento de novas relações de privilégio. Estes fins estruturantes, estes superiores propósitos políticos não são concretizáveis no período de uma legislatura, logo a existir uma saudável alternância, que poderá ocorrer nas eleições, não pode subjugar o país, à hipotética insensatez e agenda própria do novo partido.

Reclamam-se assim por firmes e francos pactos de regimes, que incidam sobre as mais importantes temáticas, procurando envolver o maior número de partidos, movimentos, associações e confederações, permitindo assim, perpetuar as medidas anunciadas. Neste contexto, o peso institucional e único do Presidente da República, poderá arrogar um papel da maior relevância, procurando garantir a salvaguarda dessas decisões.

Os primordiais desafios nos diferentes âmbitos sociais, políticos e económicos, devem ser devidamente cunhados e definidos, obrigando, os diversos intervenientes políticos, impelidos também pela sociedade civil, a concretizar e a seguir o caminho determinado.

A concretização, possível, deste idealismo é o assumir de um verdadeiro propósito de fraternidade intergeracional, procurando assim desautorizar os imediatismos partidários e quebrar de vez com os egoísmos sociais.  


FM
Escrito em Julho de 2010
Revisto e actualizado em Agosto de 2018