quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

WIKIASSANGE

Julian Assange, o homem que se tornou em poucos dias na personagem mais famosa do mundo, será provavelmente considerada a grande figura de 2010. Odiado e Amado, como são todos os que alcançam este lugar de destaque na imprensa mundial, este nova figura não se permite à simples e singela indiferença.

Quando em Abril, o site WikiLeaks, revelou ao mundo o chocante vídeo dos dois helicópteros Apaches a dizimarem um grupo de pessoas no Iraque, como se de um jogo da PlayStation se tratasse, o apoio em redor da relevância do conteúdo e da importância do site foi unânime, alcançando então o primeiro degrau para a sua notoriedade mediática
Mais tarde vieram as, consideradas, pertinentes e necessárias informações sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque,  que suscitaram mais polémica e indignação, mas ainda sem atingir os níveis de entusiasmo suficiente para empolgar o comum dos mortais.
Finalmente, quando o site se transformou num género de revista cor de rosa da diplomacia internacional, conheceu definitivamente a fama internacional.
Agora sabemos não só o nome do site, como o do seu fundador e aprendemos termos como “cable” ou “mirror”.

Mas o que pretende Julian com estas revelações?

Os puristas acreditam que o WikiLeaks apenas deseja desmascarar a face obscura dos governos e das suas diplomacias, prestando dessa forma um serviço aos cidadãos do mundo.
Muitos defendem a tese que o site apenas está a permitir dar visibilidade à pequena vingança de antigos militares e/ou funcionários do departamento de Estado americano. 
Outros acreditam que existem interesses estratégicos e económicos em todas estas movimentações, mas que ainda não conseguiram depreender quais.
Temos ainda aqueles que vêm esta actividade como um claro protesto antiamericano, dando voz a todos os que acusam os EUA de imperialismo.
E como sempre, somos também regalados com uma esplêndida teoria conspirativa do lunático Presidente da República Islâmica do Irão, que obviamente considera que tudo isto não passa de uma invenção, criada pelos terríveis americanos,  com o intuito  de dividir os irmãos muçulmanos e atacar os interesses do seu país. Sejamos justos, desta vez conseguiu ser mais criativo do que o seu homólogo Venezuelano.

O que é certo e incontornável, é que ninguém faz a mínima ideia dos verdadeiros intentos deste australiano.

Analisemos então as contras argumentações das possibilidades anteriores.

A pureza das boas intenções no mundo da impressa, na esfera da politica e nas suas calorosas relações, simplesmente não existe. Creio que ninguém será ingénuo para acreditar que Assange é somente motivado pelo nobre sentimento da liberdade de imprensa.
A tese da vingança será sempre muito difícil de provar. No entanto esta temática expõe, acreditando no que é contando pelos media, a forma infantil, amadora e caricata, de que como, supostamente, toda esta informação foi obtida. Aqui reside uma das principais (se não a principal), fontes do embaraço da diplomacia americana.
Relativamente aos interesses estratégicos e económicos, se estes realmente existem, o mais certo é nunca sabermos quais são.
Quanto à ideia que tudo isto pretende somente atacar os EUA, acredito, excluindo as hipotéticas tensões diplomáticas susceptíveis de serem criadas,  que grande parte dos documentos até agora divulgados embaraça mais os outros países do que propriamente os norte-americanos. Como provam, por exemplo, os documentos sobre a Arábia Saudita. 
Finalmente... sobre a elaborada ideia do Presidente Mahmoud Ahmadinejad... creio que não valerá a pena desperdiçar palavras para a contra-argumentar...

Não pretendo minorar muitos dos conteúdos revelados, mas sejamos honestos, grande parte do que foi dado a conhecer nesta última leva de informações, não é  provido de real interesse.

Começou-se então a difundir uma certa ideia que o segredo é nefasto, que a diplomacia deveria ser aberta e que o Sr. Assange é um herói. Parece que agora as relações internacionais apenas servem para encobrir jogos conspirativos e os interesses das elites políticas.  Mutámos, ou pretendem que mutemos, de tal forma o nosso pensamento, de forma a acreditar que os diplomatas e os serviços de espionagem, são instrumentos de uma classe corrupta e mal intencionada.

A arte da diplomacia, aquela que permite o sono tranquilo e o espírito descansado,  carece de descrição e reserva. Os seus sucessos são festejados em silêncios e o seus insucessos são as noticias de abertura dos telejornais.

Não elevem este australiano ao píncaros da magnanimidade, ele cometeu um grave delito, ele roubou informação confidencial, apoderou-se de documentos considerados secretos. A única coisa proeza que conseguiu, foi antecipar no tempo a sua divulgação.

Intimamente ligado com esta cadeia de acontecimentos está obviamente o papel dos media, que estão verdadeiramente delirantes com acesso a esta informação roubada. Mas impõem-se a questão: Deviam os meios de comunicação social ter publicado ou não estes conteúdos? Será seguramente difícil, se não impossível, um director de um qualquer jornal fechar os olhos a esta informação. No entanto, acredito que a forma de como seleccionar, abordar e transmitir estes conteúdos, deverá exigir rigor, serenidade e respeito. Não se pode, por exemplo, divulgar uma lista com os locais considerados, pela diplomacia americana, de elevada importância estratégica, da forma leviana como foi feito. Quem ganha com esta informação? Ou melhor, qual é a relevância jornalística desta informação? Apenas os terroristas sorriem com esta lista.

Precisamos da diplomacia. Precisamos do recato da diplomacia. A sua actuação permite que as democracias liberais, que nos habituamos a viver, resistam e sobrevivam!


FM (12:08)