segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Avante Camarada! (2)

Os comunistas não se distinguem apenas pelos seus elevados objectivos e pela sua acção revolucionária. Distinguem-se também pelos seus elevados princípios morais.
Álvaro Cunhal




Afirmava Álvaro Cunhal, num dos seus ensaios que “os traços essenciais, o socialismo tal como existe na União Soviética e noutros países socialistas é o ideal de luta de todos os explorados e oprimidos, é a prefiguração do eu próprio futuro. Não se trata já de uma previsão teórica, como foi antes de 1917. Trata-se de uma aquisição histórica, da maior realização e da maior conquista do proletariado internacional, com um poder de atracção e de convencimento mil vezes superior ao da mais bela das utopias1
Desvendar qualquer hipotética moral do actual Partido Comunista Português, é desvendar a moral do Partido no momento da sua fundação. A estética do tempo não ocultou, nem pretendeu ocultar, o conteúdo de sempre.
O partido do Comité Central, é o exemplo vivo da moral comunista, que anteriormente procurei descortinar. Representa de uma forma inequívoca os seus valores, a suas pretensões e as suas vontades. É um partido que aguarda pelo seu momento para poder ditar o rumo da história. É um partido que anseia pela revolução do proletariado.
O PCP não esconde que a visão idealizada por Marx e Lenine, é “uma concepção do mundo, uma politica e uma ética2. Sendo que esta perspectiva é intrínseca à própria conduta do partido, visível nos seus estatutos, programa e orgânica. A moral comunista é o embrião sobre o qual se desenvolve toda a actividade partidária e politica.
O olhar relativamente às percepções morais históricas, à necessidade de uma certa educação, ao papel da religião e ao seu nobre sentimento revolucionário, não mutaram com o desembrulhar do tempo. O desejo de validar universalmente o seu conceito de moral, continua presente nos espíritos de todos os camaradas.
A melhor forma de perscrutarmos a génese, o pensamento e os ideais de um partido é recorrermos ao seu Programa e Estatutos.
O primeiro, logo na sua introdução, podemos aferir sobre os intentos do partido, que “tem como objectivos supremos a construção do socialismo e do comunismo - de uma sociedade nova liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, sociedade em que o desenvolvimento das forças produtivas, o progresso científico e tecnológico e o aprofundamento da democracia económica, social, política e cultural assegurarão aos cidadãos liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado e respeito pela pessoa humana3.
Descreve-nos também a intenção de construir o comunismo, que em traços gerais, corresponde à moral previamente apresentada. Contudo subsiste a dúvida, devido à sua ambígua enunciação, sobre que tipo comunismo se pretende construir.
Aferimos ainda que a base teórica é a marxista-leninista e que o processo revolucionário, iniciado em Abril de 1974, está inacabado. A sua moral, os seus valores, e os seus propósitos, exalta o programa, ainda triunfarão. Descreve-nos a sua admiração pela ex-URSS e a sua crítica relativamente aos regimes imperialistas, que atentaram contra os reais interesses do povo.
Nos Estatutos, são reafirmadas e de novo impressas as noções do Programa, destacando também o papel do partido na evangelização da moral e na implementação das verdadeiras aspiração comunistas.
Estes dois documentos evidenciam que a moral comunista traçada por Marx, Engels e Lenine, continua presente no espírito e nas consciências dos comunistas portugueses.  
Os comunistas acreditam que são dotados de qualidades morais superiores, mas também acreditam que chegará o dia em que todos os seres serão contagiados, através de um processo natural, por essa moral. A revolução... ou melhor, o resultado da verdadeira revolução, iluminará o espírito da humanidade, e quando esse dia chegar, terminarão as injustiças e as desigualdades.
Esta moral, alega que as suas raízes estão assentes em evidências cientificas, transformando essa premissa na sua força. Por esse motivo, acreditam numa lógica de desencadeamento natural de acontecimentos, que permitirá o reconhecimento desta moral como superior a todas as outras.
O Partido Comunista Português segue esta lógica. Acredita que a revolução de Abril foi o iniciar do processo revolucionário do proletariado e que este foi de certa forma contrariado, mas que um dia retomará o seu curso.
Apesar da narrativa muitas vezes ambígua e vazia (necessária aos nossos moderados tempos) patente nos documentos oficiais, o partido não ignora as suas raízes e a sua base moral.
Subsiste então a dúvida: E se o PCP vencesse as eleições... honrando a sua moral... quais seriam as primeiras medidas que desencadeariam, de forma a completarem o seu compromisso ideológico?    



1 e 2) IN Álvaro Cunhal, “A Superioridade Moral dos Comunistas”;
3) IN Programa do PCP 


FM (19:45)